Docente da ULusófona projeta realidade hipotética em que influencers existirão como preservadores da autenticidade e das conexões humanas
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)

Jorge Bruno Ventura
São os influencers, e por muito que me custe, tenho que o dizer, todos, mesmo os da categoria dos ‘palermas’, que num futuro próximo podem ser geradores de uma verdade no relacionamento e poderão ser símbolo de uma garantia de autenticidade.
E tudo mudou. E tudo vai mudando. Caso contrário, estaríamos a viver em cavernas. Seríamos uns trogloditas a vocalizar sons guturais. Testemunhamos revoluções que oferecem momentos sem retorno: o aparecimento da Internet, a Web 2.0 com o fenómeno das redes sociais e, atualmente, a Inteligência Artificial Generativa. São inúmeras as mudanças e que acontecem em todas as dimensões do Humano.
A contemporaneidade expõe-se a desafios únicos cujo entendimento exige capacidades de conhecimento profundo e camadas de perceção de diferentes graus. Antecipar o futuro é missão impossível pela relação cada vez mais forte do que é genuíno e verdadeiro com aquilo que é artificial e gerado. A vivência humana será concretizada, por um lado, através de relacionamentos de características processadas e virtuais e, por outro lado, naturais e verdadeiras. Neste cenário, potencia-se a inflação do discernimento da capacidade de distinguir o verdadeiro daquilo que não o é, e o natural daquilo que é processado.
Esta tendência poderá ser contrariada com o trabalho dos influencers, através da veracidade da sua existência e da capacidade de relacionamento/interatividade que geram. Ao criar conteúdo, partilhá-lo e relacionar-se com o outro, o influenciador poderá vir a ser símbolo da verdade e do autêntico. Bem sabemos que há influencers virtuais criados por IA, mas aqui interessa o contributo dado pelos de carne e osso.
Há várias formas de dividir ou categorizar os influencers. O número de seguidores faz deles nano, micro, macro ou mega influenciadores. Podemos também categorizá-los como: ‘celebridades’- os que desenvolvem uma carreira com notoriedade pública e que por via dessa sua exposição foram para as redes sociais, ‘especialistas’ – os que devido à sua formação estão vocacionados para um determinado tema, e, por fim, os ‘criadores de conteúdos’ – o tradicional influencer. Nesta última categoria propomos a abertura da subcategoria: ‘palermas’.
Porquê esta subcategoria? Há quem leve o trabalho de criação de conteúdos muito a sério e dispõe de uma estrutura profissional no desempenho da sua atividade e relacionamento com patrocinadores. Fazem um trabalho muito digno e contribuem para o posicionamento das marcas com quem trabalham e às quais exigem contratos. Por outro lado, há aqueles que em nada dignificam a atividade e que se tornam conhecidos por criarem conteúdo com que há de mais abjeto no mundo. Esses deviam ser banidos por darem mau nome a uma atividade que na sua essência não deve ser olhada com desconfiança.
São os influencers, e por muito que me custe, tenho que o dizer, todos, mesmo os da categoria dos ‘palermas’, que num futuro próximo podem ser geradores de uma verdade no relacionamento e poderão ser símbolo de uma garantia de autenticidade. Caso o futuro nos torne órfãos da dimensão Humana, serão eles com a sua veracidade de existência que poderão dar o sinal de que ainda há espaço para um tête-à-tête.
Jorge Bruno Ventura
Diretor da Licenciatura em Ciências da Comunicação
Fonte: Jornal SOL