Disciplina Atelier de Leitura Dramática IV

No início do séc. XX, Strindberg delimitou um espaço novo para a forma dramática, batizando-a "teatro íntimo". Este espaço do teatro íntimo tornou-se deste então – de Ibsen a Bernhard, de Tchékhov a Lars Nóren – um ponto de convergência das escritas dramáticas do nosso tempo. "Para irradiar, o teatro precisa de um espaço fechado. Mas esta estreiteza do teatro é suscetível de uma dilatação infinita, ele possui a vocação de conter todo um mundo", afirma Jean-Pierre Sarrazac. A presente UC explora esta "dramaturgia da subjetividade" de que Strindberg foi o precursor, uma dramaturgia que põe em tensão o íntimo e o cósmico, o eu e o mundo, e que tem em "Longa Jornada para a Noite", obra-prima de Eugene O'Neill, um dos seus expoentes. O "close reading" deste testamento dramático "escrito a lágrimas e a sangue" permitirá ponderar a espetacularidade do íntimo e o processo através do qual elementos autobiográficos adquirem forma dramática, dando origem a uma "dramaturgia na primeira pessoa".

Não aplicável

1. Teatros íntimos 1.1. Strindberg: o íntimo como "palavra de ordem" 1.2. Autobiografia, 'récit de vie' e a poética do drama moderno 1.3. Exemplos 1.3.1. O Pelicano, Strindberg 1.3.2. A Voz Humana, Cocteau 1.3.3. Krapp, Beckett 2. Eugene O'Neill e suas heranças 2.1. Precursor e grande clássico do teatro americano 2.2. O'Neill e a tradição teatral europeia 2.3. O tópico familiar na dramaturgia o'neilliana 2.4. Escrita dramática, ou "quão literária uma obra dramática precisa de ser?" (Bloom) 3. Longa Jornada para a Noite 3.1. Texto-testamento escrito a "lágrimas e sangue" 3.2. A noção de autobiografia criativa 3.3. A questão do tempo: um só dia, toda a vida 3.3.1. Temporalidade paradoxal: James e Mary 3.3.2. Abertura e fechamento do tempo: Jamie e Edmund 3.3.3. Paraísos artificiais e a abolição do tempo 3.4. Tragédia e melodrama 3.5. Antítese casa/teatro, e a casa como teatro 3.6. Simbologia: o nevoeiro, o quarto vago 3.7. Força de vontade e necessidade trágica 3.8. A mística do paraíso perdido

Leitura coletiva dos textos propostos. Apuro de questões levantadas e respetiva submissão a debate. Recurso a fontes complementares (outros textos dramáticos, filmes, registos de espetáculos). Intervenção do docente para enquadramento ou síntese das atividades descritas.

Bogard, Travis/Bryer, Jackson, (ed.) – Selected Letters of Eugene O'Neill. New York: Limelight, 1994. Bloom, Harold (ed.) – Eugene O'Neill. New York: Infobase Publishing, 2007. Bloom, Harold (ed.) – Eugene O'Neill's “Long Day's Journey Into Night”. Philadelphia: Chelsea House, 1987. Diggins, John Patrick –  Eugene O'Neill's America: Desire Under Democracy. Chicago/London: The University of Chicago Press, 2007. O’Neill, Eugene – "Longa Jornada para a Noite". Tradução Luísa Costa Gomes. Porto/V.N. Famalicão: Teatro Nacional São João/Edições Húmus, 2023 Sarrazac, Jean-Pierre – Théâtres Intimes. Paris: Actes Sud, 1989. Sheaffer, Louis – O'Neill: Son and Playwright: Volume I. New York: Cooper Square Press, 2002. Sheaffer, Louis – O'Neill: Son and Artist: Volume II. New York: Cooper Square Press, 2002.